por: Eduardo Lima
Texto originalmente publicado em 06/10/2004, na coluna de Imprensa & Mídia. Para ler o texto no site, clique aqui.
É sabido que o Distrito Federal possui o metro quadrado mais caro do mundo, perdendo apenas para Tókio, a capital do Japão. Terrenos ainda não construídos, a segunda do bairro, são vendidos por quantias estratosféricas. Depois de construído, o mesmo terreno pode até mesmo triplicar seu valor, tornando aquele bairro conseqüentemente mais valorizado. São os casos de bairros como Octogonal ou Sudoeste, este último, considerado a "Barra da Tijuca" do DF. Citam-se também os casos dos Lagos Sul e Norte, antes simples terrenos sem importância, hoje são bairros "nobres". Dando esse panorama grosseiro, é inevitável não falar do Imposto Predial e Territorial Urbano, popularmente conhecido como IPTU. Por possuir os metros quadrados mais caros do mundo, o Distrito Federal paga uma taxa elevada do tal imposto. O manual da Secretária de Fazenda do DF explica como funciona o imposto.
O imposto é calculado com base no valor venal, ou seja, no valor que o imóvel possui normalmente no mercado, tanto para compra quanto para a sua venda. Portanto, o valor venal é estipulado pelo próprio mercado, que deve possuir "livre concorrência". Mas como criar a livre concorrência, se apenas uma empresa controla praticamente todo setor, e a mesma empresa é de propriedade de um notório senador? O valor venal, por sua vez, é calculado pela Secretaria de Fazenda (SEF doravante), com base em diversos fatores como a área construída, o estado de conservação e a valorização da quadra ou setor onde está localizado o imóvel (isso para os imóveis construídos). Cita-se brevemente a TLP – Taxa de Limpeza Pública – que é cobrada juntamente com o IPTU. A taxa de limpeza possui um valor fixo para imóveis residenciais e comerciais. A título de exemplo, um morador da Vila Planalto, pagaria R$ 506 de TLP, pois o valor fixo era de R$ 126,50 + o fator multiplicador, que era 0,40. Um absurdo concordam?
Alexandre Garcia tem a saída
Todos os habitantes do Distrito Federal concordam com o constante aumento do IPTU e da TLP. O aumento em alguns bairros chegará a 20%. Em outros, sobretudo aqueles abastados, o aumento foi de 15%. Os 20%, provavelmente serão aplicados nos bairros de Taguatinga e Águas Claras, até o presente momento, isentos de novos aumentos. Tal notícia sobre o aumento do IPTU foi noticiada no DF-TV, apresentado por Fernanda de Bretanha e Alexandre Garcia (o mesmo das eleições de 1989). O jornalista, em momento à la Boris Casoy, faz seu comentário pós-reportagem, criticando o aumento, demonstrando aos telespectadores a sua falsa "preocupação social" (afinal de contas, a classe média brasiliense também será taxada).
Mas eis que surge o verdadeiro Alexandre Garcia. Vestindo os trajes de salvador da pátria, o jornalista diz que a solução para a melhoria dos serviços públicos – que são bastante precários não somente no DF, mas em todo país – será a terceirização (ou privatização) de todos eles. "Não seria mais eficiente?", conclui Garcia. Seu desejo é apenas aquele de prosseguir e concluir o que já fora iniciado na capital federal (e em outras cidades brasileiras). Boa parte dos Ministérios (Fazenda, Trabalho ou Previdência) e órgãos distritais possuem participação de duas ou três empresas privadas. Limpeza e Informática, para citar alguns, há muito tempo estão terceirizadas. Assim, na visão de Garcia, porque não completar o que já fora iniciado?
A figura do Estado e sua crise
Este processo, chamado de privatização, tem como objetivo "desafogar" o Estado de serviços em que sua eficiência já não se mostra tão eficiente, ou simplesmente tirar das mãos estatais algumas responsabilidades consideradas "exageradas". Para compreender o processo de intervenção do Estado na economia – a economia livre é base para a propriedade privada –, será necessário retornar alguns anos.
Em 1948, a conferência de Bretton Woods (EUA), reuniu diversos economistas, com o intuito de criar um novo modelo político e econômico para o mundo, egresso do segundo conflito mundial. Nesta conferência, foram instituídos o dólar, como moeda cambial padrão para todos os países (antes disso, o padrão era ouro) e a criação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que teria como objetivo incentivar o crescimento econômico dos países subdesenvolvidos. Isto em tése, pois sabe-se que o FMI sufoca o crescimento dos países em desenvolvimento, impondo-lhes a doutrina do "Deus mercado financeiro".
Retornando a figura do Estado, o economista inglês John Maynard Keynes, argumentou que somente a propriedade privada não seria capaz de sustentar a economia. Era necessária a intervenção estatal. Tal doutrina foi aplicada principalmente pelos países da Europa Ocidental (Itália, França, Alemanha, Inglaterra). Os partidos de esquerda e de direita desses países assimilaram a figura intervencionista do Estado. "Somos todos Keynesianos", pronunciara outrora o presidente norte-americano Richard Nixon.
De fato, essas nações cresceram economicamente - embora os altos e baixos característicos do capitalismo -, e durante as década de 60 e 70, verificou-se ali os períodos de menor injustiça social, pois cidadãos desempregados teriam seus empregos garantidos, assim que a economia retomasse o crescimento. O Estado pagava salário-desemprego e os trabalhadores conquistaram diversas reivindicações, como a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais (vigente em vários países até hoje) e o aumento salarial.
Após a década de 70, o capitalismo entrou novamente em crise, causada sobretudo pelo aumento no preço do petróleo. Com esta crise, pode-se dizer que terminara o ciclo Keynesiano. O Estado, até então solucionador dos problemas, passou a ser visto como a causador de todos eles. Portanto, era necessário desafogá-lo de algumas de suas responsabilidades. Assim nasce o Neoliberalismo econômico, que argumentava a não intervenção do Estado na economia e o livre desenrolar do mercado financeiro, sendo ele mesmo auto-regulador.
O desmanche do Estado
No parágrafo anterior, foi grosseiramente explicado como nasce a intervenção estatal na economia. Vale lembrar que tal intervenção tivera início durante a década de 30, nos Estados Unidos. Viu-se que a partir dos anos 70, o Estado já não conseguia evitar novas crises econômicas. Portanto, segundo os neoliberais, seria necessário "desafogá-lo". Uma das medidas é exatamente privatizar serviços públicos como transporte, água, luz ou telefone. Privatiza-se também os bancos e empresas que antes estavam em poder do Estado. Redução da taxa de importação, permitindo o ingresso de produtos estrangeiros a preços mais acessíveis que aqueles nacionais; desaparecimento dos sindicatos e a não fixação do salário mínimo pelo Estado, pois assim dificulta a livre concorrência imposta pelo próprio mercado, além da contratação de mão-de-obra barata por salários irrisórios. Cita-se também a redução de salários, o aumento do desemprego e da miséria. Em suma, o único objetivo do neoliberalismo é a redução (ou anulação) da intervenção estatal - reduzindo-o assim a simples fantoche da propriedade privada - e a maximização dos lucros, mesmo que para isso, seja necessário danificar o meio ambiente (diga-se de passagem: efeito-estufa, desmatamento, poluição).
O modelo neoliberal está sendo aplicado pelos governos dos países latino-americanos, inclusive pelo Brasil. Aqui, o processo neoliberal iniciou com Fernando Collor, no início dos anos 90, mas foi intensificado e aprofundado nos oito anos do governo Fernando Henrique (1994-1998, 1998-2002). O voto da mudança, do repúdio ao tal modelo, culminou na vitória de Lula, que atualmente, submete-se aos mesmos preceitos, dando continuidade à orgia econômica que aí está. Aumento do desemprego, crise nas universidades públicas e o aumento da concentração midiática, agravada ainda mais com o fechamento – cita-se de passagem – das já clandestinas – pois é mais fácil fechá-las que regulamentá-las – rádios comunitárias. Triunfa o darwinismo social, em que as grandes empresas, ou seja, aquelas (mesmas) que não geram emprego, mas "sustentam" a economia do país, engolem as pequenas e médias empresas, por serem incompetitivas.
A mudança desse modelo é o retorno da intervenção estatal nos rumos da economia. Mas isso não será conquistado a cada 4 anos, com o simples voto nas urnas. Será conquistado com greves, passeatas e manifestações. É necessário que a democracia representativa dê espaço àquela participativa. A maioria, portanto, poderá exigir as melhorias que são prometidas e nunca cumpridas pelos donos do poder. Para citar algumas, geração de emprego, fim da hora-extra, redução da jornada de trabalho sem redução salarial, controle do fluxo de capitais, investimento na educação de nível fundamental, médio e superior, fim da taxação de inativos, além da modernização de simples serviços básicos, entre outras exigências. De tal maneira, o Estado torna-se mais democrático e eficiente. A privatização não melhorará os serviços públicos, ao contrário, os tornará caros e ineficientes. Concentrar é a palavra-chave (implicitamente) usada por Alexandre Garcia. No entanto, a solução encontra-se em outra palavra: Democratizar.
Sobre o autor:
Estudante de Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e editor do blog TarjaPreta.
2 comentários:
Food and Class
Tom Philpott runs Maverick Farms , blogs at Bitter Greens Journal and Maverick Eats .
I really enjoyed reading what you had to say. Interesting perspevtive that I never thought about. Thanks!
See ya,
Gary
-------------
For professional and affordable commercial voicing come check out my site sometime.
Amiable brief and this enter helped me alot in my college assignement. Say thank you you seeking your information.
Postar um comentário