sexta-feira, 20 de março de 2009

As fitas perdidas (retorno ao blog)

Eduardo Pessoa


O blog está de volta, após três anos sem escrever. Tantas coisas aconteceram nesse tempo, e sinto a necessidade em retomar, sob forma de textos, minhas inquietações filosóficas, sociológicas e intelectuais. Não escrevi durante esse período, embora não tenha ficado calado. Foi importante amadurecer, para não apenas criticar, mas iniciar a construção de um mundo melhor, como sempre sonho.

A roupagem do Tarja Preta está diferente, para provar que é possível aliar qualidade gráfica com textos críticos e reflexivos. Essa potência chamada Brasil, com suas dicotomias sociais, está em período de efervescência, pois aos poucos surge a resistência, o debate sem tendências, as manifestações, os protestos e a possibilidade (mais uma vez) de podermos crescer e se desenvolver enquanto nação. Tudo isso vem com a elite tentando manter seu status quo, fazendo uso de seus meios produtivos para conservação, inalteração e inércia da mobilização e conscientização do povo, em beneficío da liberdade econômica.
.
A grande mídia, de sua parte, contribui para criar o clima de negatividade necessário para fomentar a inércia social, gerando a sensação de que somos vira-latas dos Estados Unidos e União Européia. Não apenas a notícia ruim precisa ser notícia. Sim, deve ser noticiada, mas de forma que haja análise dos fatos e ouvidas as falas envolvidas no processo. O simples fato de expôr a notícia sem análise, ou sem ouvir uma das partes cria a cultura do espetáculo. As boas notícias também podem ser notícias. Para haver um país livre e democrático, é importante que se tenha uma imprensa pluralista. O Brasil passa por uma situação econômica privilegiada em relação aos países chamados "de primeiro mundo". O momento é adequado para que o Estado interfira veemente na economia, para criar o equilibrio, oferecer a oportunidade de circulação de dinheiro no mercado interno, além de corrigir as distorções do neoliberalismo.
.
A elite não quer o país com esse perfil. E por quê?
.
Ora, havendo interferência no Estado, diminuem as regalias e o cumprimento do "dever de casa" estabelecido pelo mercado financeiro, entidade de que se fala muito e pouco se conhece. O momento histórico é crucial para que o país seja protagonista de uma nova agenda sócioeconômica, a nível nacional e mundial, juntamente com Índia, China e África do Sul. Nas palavras de um leitor do blog do jornalista Rodrigo Vianna: "O país precisa pensar mundialmente e agir localmente". Sim, precisamos estar antenados com o mundo, mas focados nas questões da agenda brasileira: fim da desigualdade social, melhorias na educação e na saúde, ampliação da assistência pública em diversas frentes, maior mobilização e construção de cidadãos participantes. Apenas para citar algumas. É de extrema importância que este governo literalmente "ignore" o apelo das elites na manutenção de nossa "vocação colonial-agrária" para erguermos um Brasil novo, diferente, mais democrático e desenvolvido, para que todos sejamos autores e beneficiários desse projeto de desenvolvimento nacional. Os diretores, executivos e porta-vozes irresponsáveis do neoliberalismo não podem passar impunes. Precisam ser punidos nos rigores da lei e da história.
.
Observação: Parte do título do texto remete ao nome do álbum do rapper Nas, chamado "The Lost Tapes" (As fitas perdidas, na tradução livre), aliás, um primor de obra dentro do gênero.
.
Sobre o autor:
Estudante de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília e editor do blog Tarja Preta.

Nenhum comentário: