por: Eduardo Lima
Texto originalmente publicado em 14/01/2004 (11ª edição) na coluna Em Debate. Para ver o texto no antigo site, clique aqui.
O Rock Nacional encontrou seu auge na década de 80, após anos e anos escondidos às sombras dos monstros da MPB e da Jovem Guarda. Renato Russo, Hebert Vianna e Philippe Seabra, representaram o começo daquela juventude, rebelde e engajada, influenciada sobretudo pelas músicas Punk da década de 70 (Sex Pistols e The Clash). Brasília, até então uma pacata cidade moderna, se tornou em pouco tempo, berço de inúmeras bandas de Rock, seja neste período, que nos demais. Mas não somente na capital, ecoavam vozes de rebeldia. No Rio de Janeiro, os artistas da própria elite, saiam de suas belas mansões para cantar a indignação popular. Vale lembrar que neste período, o Brasil estava abandonando (psicologicamente) a ditadura militar. O sonho de uma grande geração de roqueiros, infelizmente, desapareceu. Com a abertura exagerada de nossa economia - com Fernando Collor - as empresas privadas, trataram de dar início ao interminável processo de privatização - continuado durante o governo FHC - cujas gravadoras, distribuidoras e bandas, acabaram em parte, prejudicadas.
Nos primórdios da década de 90 - que soa já como década antiga e demodé - as bandas de Rock da década anterior, cederam espaço à novas caras, certamente mais agressivas, estes, influenciados por Kiss, Guns 'N' Roses, Metallica, que acabara de ingressar no mundo do mainstream e Megadeth. Haviam também filhos do Punk inglês e norte-americano (Bad Religion, Dead Kennedys, NOFX). Nas periferias e subúrbios, novas bandas e novos estilos surgiam. Não haviam bases eletrônicas ou letras inteligentes, como aquelas de Vianna e Renato Russo. Agora, os temas eram outros: sexualidade, diversão e algumas indignações sociais. Nasciam então Chico Science, Planet Hemp, O Rappa, que iniciaram suas carreiras no circuito underground de suas cidades. Isto, não significa que não haviam bandas engajadas; muito pelo contrário. O Planet Hemp, adotou desde o início a postura pró-maconha, postura esta que já havia encontrado sua cara nos mexicanos do Cypress Hill. O Rappa, por exemplo, cantava em suas letras, a dura realidade das periferias cariocas. Entretanto, tais bandas e tais estilos não criaram uma "legião" de fãs e de jovens engajados, como ocorrera na década de 80.
Sexo, diversão e brigas
Além do Planet Hemp, com sua postura pró-maconha e do Rappa, cuja mistura de HipHop, Ska e Reggae os levou a serem considerados pai do movimento, outras bandas nasciam no circuitos do país. Em São Paulo, estava nascendo a banda Charlie Brown Jr., do cantor Chorão e Champignon; em 94, os Raimundos, de Digão, Rodolfo, Fred e Canisso, lançavam seu primeiro CD, mesclando o hardcore com o forró, influenciados sobretudo por Zenílton, cuja participação ocorreu em diversas músicas. Estas bandas - importantes nomes do novo Rock Nacional - tratavam de temas característicos da adolescência: sexualidade, diversão, drogas, falta de dinheiro e crises existenciais. Temas atuais e de pouco engajamento: um prato cheio para as majors (grandes gravadoras). De fato, o sucesso destas bandas, culminou em grandes mudanças, sobretudo na formação: na banda Raimundos, Rodolfo, convertido-se para uma nova religião, abandona-a; no CBJr, Thiago Castanha, guitarrista principal, sai da banda para concluir sua faculdade. Uma perda para ambas, pois agora, seus sons mudariam drasticamente. Assim foi: o CD KavooKavala, dos Raimundos, não repercutiu muito bem e todos os fãs da banda, durante os shows, pediam as antigas songs da era Rodolfo. Já a banda de Santos, saiu da esfera Punk-Hardcore-Ska, para fazer músicas mais reflexivas e melódicas: "Como tudo deve ser" e "Lugar ao Sol". Haviam também músicas pesadas e críticas, como "Eu protesto", "TFDP" e "Vícios e Virtudes": nada de especial.
Em 2002, a banda LS Jack, formada por músicos, lançou o CD V.I.B.E. - Vibrações Inteligentes Beneficiando a Existência - e dois hits, "Carla" e "A Carta", colocaram a banda entre as mais conhecidas do circuito Pop/Rock. Entretanto, um litígio com o grupo de pagode Art Popular, interrompeu a divulgação de novos hits. O incidente, repercutiu em toda mídia, deixando transparecer alguns fatores: a) A falta de crítica da mídia em simplesmente exibir os fatos b) A falta de bom senso de nossos artistas, eclodem em episódios deploráveis como este.
O engajamento está embaixo
Ao contrário do circuito midiático, onde as principais bandas tratam de temas como relações amorosas, problemas financeiros e críticas avulsas, há bandas no circuito underground que, embora o pouco dinheiro e patrocínio, fazem bons CDs e possuem de facto, postura engajada. A banda Ratos de Porão, do vocalista João Gordo - apresentador do programa Gordo a Go-Go, na MTV - além de utilizar a linguagem juvenil, como gírias e palavrões, faz críticas veementes ao sistema político e social. Além disso, continua produzindo seu CDs pelo selo norte-americano Alternative Tentacles, de Jello Biafra, ex-vocalista da banda Dead Kennedys. O som, continua o mesmo: Hardcore.
Mesma situação ocorre com as bandas Dead Fish e 10zer04, do Espírito Santo e Distrito Federal, respectivamente. A banda capixaba, além de fazer Punk/Hardcore melódico, produz seus discos pelo selo Terceiro Mundo, criado por eles mesmos. Embora o pouco patrocínio, fizeram ao longo de sua carreira musical, inúmeras músicas, criticando o sistema, a mídia e a elite. As mais conhecidas, são "Sonho Médio", "Molotov", "Mulheres Negras" e "MST". Já a banda candanga, da cidade satélite de Samambaia, mesclou som populares, como forró, ao Rap-Metal, característico da banda norte-americana Rage Against The Machine e, sons da década de 70 e 80, como Jimi Hendrix, Led Zeppelin e Dead Kennedys. Embora a pouca idade - a média é de 19 anos - suas músicas, são repletas de críticas inteligentes ao sistema político, econômico e repressão policial. O primeiro disco, de título homônimo, foi produzido por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, de maneira independente. Em seu primeiro lançamento, não faltam homenagens à Lampião, Antônio Conselheiro, Zumbi, entre outros ícones de nossa história. Além das críticas, expõem suas sugestões para melhorar as coisas, como na música "Globalização (a nova ordem mundial)" ou "Só com outro Zumbi ou Quilombola pode o negro alcançar a liberdade".
Como visto, o Rock nacional alcançou inúmeras classes sociais e, expandiu sua capacidade de criação para inúmeros estilos, entre eles, Hardcore, Reggae, Ska, inclusive o Dub e música eletrônica. Embora as inúmeras bandas e estilos, poucas conseguem expôr de maneira simples e inteligente suas críticas ao sistema capitalista, à repressão policial, entre outras mazelas. A possibilidade de uma grande divulgação e de grandes vendas, impedem a criticidade de tais bandas, sobretudo aquelas do grande circuito nacional. Resultado: inúmeras mudanças de formação, mudança de som e pouco engajamento político.
Outro grande fator que impede o acesso de muitos jovens à música de qualidade, é a falta de democracia no mundo musical, uma pífia divulgação da mídia, carência de programas em redes abertas para os jovens e principalmente, o número reduzido de rádios comunitárias. Há também o alto custo dos CDs e DVDs, em muitos casos, inacessíveis aos garotos de subúrbios e periferias. O pior, é a falta de capacidade e vontade de produtores e bandas para diminuir seus preços e atrair assim, mais fãs, sem necessariamente alterar a qualidade musical. O mundo musical não rejeita cabeludos, punks e roqueiros sofisticados: basta excluir o senso crítico e o engajamento. Como dito, há também bandas que, embora o pouco dinheiro, têm postura engajada, participam de projetos políticos e sociais, sem alterar a qualidade musical de seus respectivos estilos. Muitos, seriam os fatores para um debate entre jovens, adultos, fãs, produtores e mídia sobre a democratização dos meios de comunicação e da música. Por tais motivos, pode-se dizer que o Rock Nacional está bonito, pesado, porém, acrítico.
Nos primórdios da década de 90 - que soa já como década antiga e demodé - as bandas de Rock da década anterior, cederam espaço à novas caras, certamente mais agressivas, estes, influenciados por Kiss, Guns 'N' Roses, Metallica, que acabara de ingressar no mundo do mainstream e Megadeth. Haviam também filhos do Punk inglês e norte-americano (Bad Religion, Dead Kennedys, NOFX). Nas periferias e subúrbios, novas bandas e novos estilos surgiam. Não haviam bases eletrônicas ou letras inteligentes, como aquelas de Vianna e Renato Russo. Agora, os temas eram outros: sexualidade, diversão e algumas indignações sociais. Nasciam então Chico Science, Planet Hemp, O Rappa, que iniciaram suas carreiras no circuito underground de suas cidades. Isto, não significa que não haviam bandas engajadas; muito pelo contrário. O Planet Hemp, adotou desde o início a postura pró-maconha, postura esta que já havia encontrado sua cara nos mexicanos do Cypress Hill. O Rappa, por exemplo, cantava em suas letras, a dura realidade das periferias cariocas. Entretanto, tais bandas e tais estilos não criaram uma "legião" de fãs e de jovens engajados, como ocorrera na década de 80.
Sexo, diversão e brigas
Além do Planet Hemp, com sua postura pró-maconha e do Rappa, cuja mistura de HipHop, Ska e Reggae os levou a serem considerados pai do movimento, outras bandas nasciam no circuitos do país. Em São Paulo, estava nascendo a banda Charlie Brown Jr., do cantor Chorão e Champignon; em 94, os Raimundos, de Digão, Rodolfo, Fred e Canisso, lançavam seu primeiro CD, mesclando o hardcore com o forró, influenciados sobretudo por Zenílton, cuja participação ocorreu em diversas músicas. Estas bandas - importantes nomes do novo Rock Nacional - tratavam de temas característicos da adolescência: sexualidade, diversão, drogas, falta de dinheiro e crises existenciais. Temas atuais e de pouco engajamento: um prato cheio para as majors (grandes gravadoras). De fato, o sucesso destas bandas, culminou em grandes mudanças, sobretudo na formação: na banda Raimundos, Rodolfo, convertido-se para uma nova religião, abandona-a; no CBJr, Thiago Castanha, guitarrista principal, sai da banda para concluir sua faculdade. Uma perda para ambas, pois agora, seus sons mudariam drasticamente. Assim foi: o CD KavooKavala, dos Raimundos, não repercutiu muito bem e todos os fãs da banda, durante os shows, pediam as antigas songs da era Rodolfo. Já a banda de Santos, saiu da esfera Punk-Hardcore-Ska, para fazer músicas mais reflexivas e melódicas: "Como tudo deve ser" e "Lugar ao Sol". Haviam também músicas pesadas e críticas, como "Eu protesto", "TFDP" e "Vícios e Virtudes": nada de especial.
Em 2002, a banda LS Jack, formada por músicos, lançou o CD V.I.B.E. - Vibrações Inteligentes Beneficiando a Existência - e dois hits, "Carla" e "A Carta", colocaram a banda entre as mais conhecidas do circuito Pop/Rock. Entretanto, um litígio com o grupo de pagode Art Popular, interrompeu a divulgação de novos hits. O incidente, repercutiu em toda mídia, deixando transparecer alguns fatores: a) A falta de crítica da mídia em simplesmente exibir os fatos b) A falta de bom senso de nossos artistas, eclodem em episódios deploráveis como este.
O engajamento está embaixo
Ao contrário do circuito midiático, onde as principais bandas tratam de temas como relações amorosas, problemas financeiros e críticas avulsas, há bandas no circuito underground que, embora o pouco dinheiro e patrocínio, fazem bons CDs e possuem de facto, postura engajada. A banda Ratos de Porão, do vocalista João Gordo - apresentador do programa Gordo a Go-Go, na MTV - além de utilizar a linguagem juvenil, como gírias e palavrões, faz críticas veementes ao sistema político e social. Além disso, continua produzindo seu CDs pelo selo norte-americano Alternative Tentacles, de Jello Biafra, ex-vocalista da banda Dead Kennedys. O som, continua o mesmo: Hardcore.
Mesma situação ocorre com as bandas Dead Fish e 10zer04, do Espírito Santo e Distrito Federal, respectivamente. A banda capixaba, além de fazer Punk/Hardcore melódico, produz seus discos pelo selo Terceiro Mundo, criado por eles mesmos. Embora o pouco patrocínio, fizeram ao longo de sua carreira musical, inúmeras músicas, criticando o sistema, a mídia e a elite. As mais conhecidas, são "Sonho Médio", "Molotov", "Mulheres Negras" e "MST". Já a banda candanga, da cidade satélite de Samambaia, mesclou som populares, como forró, ao Rap-Metal, característico da banda norte-americana Rage Against The Machine e, sons da década de 70 e 80, como Jimi Hendrix, Led Zeppelin e Dead Kennedys. Embora a pouca idade - a média é de 19 anos - suas músicas, são repletas de críticas inteligentes ao sistema político, econômico e repressão policial. O primeiro disco, de título homônimo, foi produzido por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, de maneira independente. Em seu primeiro lançamento, não faltam homenagens à Lampião, Antônio Conselheiro, Zumbi, entre outros ícones de nossa história. Além das críticas, expõem suas sugestões para melhorar as coisas, como na música "Globalização (a nova ordem mundial)" ou "Só com outro Zumbi ou Quilombola pode o negro alcançar a liberdade".
Como visto, o Rock nacional alcançou inúmeras classes sociais e, expandiu sua capacidade de criação para inúmeros estilos, entre eles, Hardcore, Reggae, Ska, inclusive o Dub e música eletrônica. Embora as inúmeras bandas e estilos, poucas conseguem expôr de maneira simples e inteligente suas críticas ao sistema capitalista, à repressão policial, entre outras mazelas. A possibilidade de uma grande divulgação e de grandes vendas, impedem a criticidade de tais bandas, sobretudo aquelas do grande circuito nacional. Resultado: inúmeras mudanças de formação, mudança de som e pouco engajamento político.
Outro grande fator que impede o acesso de muitos jovens à música de qualidade, é a falta de democracia no mundo musical, uma pífia divulgação da mídia, carência de programas em redes abertas para os jovens e principalmente, o número reduzido de rádios comunitárias. Há também o alto custo dos CDs e DVDs, em muitos casos, inacessíveis aos garotos de subúrbios e periferias. O pior, é a falta de capacidade e vontade de produtores e bandas para diminuir seus preços e atrair assim, mais fãs, sem necessariamente alterar a qualidade musical. O mundo musical não rejeita cabeludos, punks e roqueiros sofisticados: basta excluir o senso crítico e o engajamento. Como dito, há também bandas que, embora o pouco dinheiro, têm postura engajada, participam de projetos políticos e sociais, sem alterar a qualidade musical de seus respectivos estilos. Muitos, seriam os fatores para um debate entre jovens, adultos, fãs, produtores e mídia sobre a democratização dos meios de comunicação e da música. Por tais motivos, pode-se dizer que o Rock Nacional está bonito, pesado, porém, acrítico.
Sobre o autor:
Estudante de Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e editor do blog TarjaPreta.
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