quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Boris Casoy e o Golpe de 64


por: Eduardo Lima

Texto originalmente publicado em 31/03/2004 (16ª edição), na coluna de Imprensa & Mídia. Para ler o texto no antigo site, clique aqui.

Boris Casoy, é o jornalista que deixa marcas sobre aqueles que o assistem, tanto por seu carisma, quanto por sua competência jornalística. É indubitável que seja um dos âncoras mais respeitados do país, respeito este, adquirido com inúmeras participações em rádios e programas de TV, entre eles, o Jornal do SBT, que o lançou ao mundo jornalístico. Boris, é também conhecido por ser um jornalista que diverge da relação teórico-prática, já que não possui curso superior em Comunicação Social / Jornalismo. Seu carisma com o público, como dito, é muito grande e seu nome, soa aos ouvidos de muitos jornalistas, como sinônimo de “bom jornalismo”.

Não obstante suas qualidades jornalísticas, absolutamente louváveis, seu atual telejornal, o Jornal da Record, adotou a técnica da “opinião do âncora”, técnica esta criada pelo próprio Boris. Como funciona? Ao término de uma reportagem em seu jornal, ele, se vira para um lado e a câmera focaliza-o mais de perto, para transmitir assim, seu comentário sobre a matéria. Como sempre faz, não poupa críticas, embora demonstre sem constrangimentos, sua postura antiesquerdista. Em vários casos, conclui sua “opinião” com a frase-chavão “Isto é uma vergonha!”. Seus comentários, no entanto, se confundem com a matéria em si, deixando o telespectador confuso sobre: a) a postura do jornal b) a postura do apresentador. As opiniões de Boris, se tornam mais marcantes, como dito, que a própria reportagem, e em muitos casos, são tendenciosas e cheias de frases subliminares.

Isto sim que é vergonhoso

Como citado acima, Boris não esconde sua postura antiesquerdista, sobretudo quando a matéria exibida em seu telejornal, tem por protagonistas movimentos sociais, como o MST, ou mesmo líderes socialistas como Fidel Castro e Hugo Chávez. Em seus comentários, trata subitamente de rotulá-los como ditadores ou assassinos, por exemplo. Também não poupa críticas aos líderes palestinos, quando se trata do confronto Israel-Palestina. Se fizermos uma espécie de “túnel do tempo” do apresentador-jornalista, veremos uma sua participação naquilo que foi o “embrião” do golpe de 64. Como líder estudantil e as informações que dispunha – absolutamente questionáveis – ele ajudou a divulgar a idéia de uma possível “ditadura” comunista (leia os textos do especial sobre a ditadura militar publicados neste site). Em entrevista ao site Jovemcracia não se diz arrependido daquilo que fez, e mais, disse que “faria” tudo novamente. Ressalta ainda que figuras como Ulysses Guimarães, participaram posteriormente, do processo de redemocratização do país, tendo este participado também como “porta-voz” do regime militar. Em caso de um (não desejado) retorno à um regime militar no país, Boris, indubitavelmente, seria (e será) o primeiro porta-voz para um possível retorno dos militares ao poder.

É ótimo e louvável que a Record, terceira maior emissora do país, possua um telejornal e jornalista de qualidade. É necessário também dizer que estes grupos midiáticos (Record, Bandeirantes, SBT, entre outras) de tendências pseudodemocráticas, discutam a possibilidade – viável, só depende deles e dos telespectadores – de uma democratização dos meios de comunicação. É vergonhoso dizer também que somente 8% dos municípios produzam notícias para todo país, segundo dado revelado pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais (leia na coluna de mídia, o texto de Gustavo Barreto). Igualmente lamentável é ver que existem na grande imprensa, figuras célebres e tendenciosas, como Boris Casoy.

Mas não seria a grande imprensa, tendenciosa, com postura de centro-direita ou até mesmo de direita?

De fato, a postura “imparcial” da grande mídia, seja ela impressa ou eletrônica, é questionável. Um passo para a mudança, seria incentivar a competição équa entre os grupos. Mas deveria haver democratização, antes de mais nada. Isto, significaria brusca queda nos índices de monopólio Global, e daquela da grupo Abril, para citar alguns casos. Seria necessário uma desarticulação de tais grupos midiáticos, para que suas tecnologias sejam “democratizadas”. Para que o jornalismo regional seja incentivado. O mesmo diga-se para o jornalismo crítico e investigativo. Com isso, diminuiria a relação governo-mídia e vice-versa, para que reuniões com o BNDES (ocorreu dia 24 deste mês) sejam absolutamente evitadas (poupando o mau uso de dinheiro público).

O acima assinado, conclui este humilde texto, com a frase-chavão do jornalista em questão, exaustivamente repetido em seu jornal e levemente reformulado: “Isto sim que é vergonhoso”.


Sobre o autor:
Estudante de Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e editor do blog TarjaPreta.

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