Por: Eduardo Lima
O que é sentar? Colocada assim, a pergunta parece tão óbvia, que alguns ficam até envergonhados em respondê-la. A concepção primeira de sentar é acomodar nossos membros inferiores e nádegas sobre algum objeto, geralmente estático, que pode ser um sofá, uma cadeira ou o banco da praça. Com esta definição, meu texto terminaria aqui, mas quero ir além. Reitero a pergunta: o que é sentar? Sentar, na minha humilde opinião, não é apenas isso. Sentar também é um momento de introspecção. Não sei se alguém já reparou que o verbo sentar está intimimamente ligado com o verbo sentir. Quem é que já não sentiu algo e sentou? E quem já não sentou por estar sentindo algo? Isso ocorre quando sentimos uma tremenda dor-de-cabeça e sentamos; quando sentimos que o organismo não está funcionando bem e sentamos, para citar alguns exemplos. Sentar representa um momento singular e subjetivo em que tudo ao nosso redor pára por alguns instantes e concentramos nossa atenção em torno do objeto de análise. O objeto de análise pode ser a recordação de uma pessoa, um momento, uma música, um texto ou para os mais engajados, algo que no mundo não vá como deveria ir. Porquê tanta guerra ao invés da paz? Porquê tanta desigualdade ao invés da justiça social? Levantar-se não é a causa do sentar-se (ou do sentir algo, portanto, sentar-se), e sim, a consequência daquele sobre este. Levantamos, ou seja, concretizamos um ato, porque previamente sentamos e refletimos em torno desse ato (ou seja, teorizamos tal ato). Será positivo? Negativo? Obsoleto? Deixo ao leitor a resposta...
Sentar e sentir são elementos constantes na vida do ser humano. Quem já reparou que os bebês, antes de nascerem, permanecem naquela posição de quem está sentado? Somente depois de alguns meses é que darão seus primeiros passos. Ambos são elementos essenciais no ser humano. Sentar e sentir são as condições de existência do homem. Sentamos para comer (e sentimos o prazer em estar alimentados), sentamos para ler (e sentimos o prazer em conhecer algo novo), sentamos para fazer nossas necessidades fisiológicas (e sentimos o prazer em estar “livres”) e sentamos principalmente para mudar alguma coisa (e quem não sente prazer em ver que algo mudou?). Entretanto, nos dias atuais, a filosofia está em crise. As pessoas não mais páram para pensar no seu destino, na natureza, na violência, na humanidade que tanto falta a este mundo. Páram sim pra ganhar mais dinheiro, mais poder, mais prestígio, mais um carro, mais uma mulher. E quanto mais tem, menos são. Perdem gradativamente a humanidade. Se tornam mercadorias vendáveis, enlatadas e descartáveis. Logo, se a filosofia está em crise, sentar, ou seja, o momento de reflexão em torno de um ou mais objetos de análise também está em crise. Sentar há duas concepções no mundo atual: conformismo e status quo. E isso remete a segunda parte do título de meu texto: sentir sem tá, sentar sem ti.
No primeiro caso, as pessoas sentam pois estão cansadas de se levantarem e não obterem nenhum resultado concreto. Algumas sequer sentam – utilizando a concepção filosófica aqui explicada. Vivem a vida por simples instinto, emoção, paixão, mas sem reflexão, pois não lhes foi dada a oportunidade para refletir. Logo, sentir sem tá. O “tá” seria o estar entendido como ser crítico, filosófico. Atualmente, as pessoas vivem como zumbis. Não estão. Eram, pois se perderam em algum lugar da história, perderam a humanidade. No segundo caso, aqueles que mandam – os donos do poder – estão muito bem acomodados, sentados em seus assentos, símbolo de poder, status e renome como o prefeito, o governador, primeiro-ministro ou presidente. E continuam mantendo este poder na mão de poucas pessoas, geralmente do mesmo nicho social. Logo, sentar sem ti. O “ti” representa o pai, a mãe, o irmão, o amigo, o professor, ou seja, pessoas que integram nosso mundo coletivo. O mundo coletivo e sobretudo a coletividade estão desaparecendo, pois prevalece a lógica da individualidade fugaz. Todos possuímos anseios e desejos exclusivos, mas isso não deve ser justificativa para obstruírmos interesses coletivos. Até quando essa atual lógica será vista como “normal”, corriqueira? É válido ressaltar que estamos abdicando do bem mais precioso: sentar. Abrir mão deste bem é renegar nossa humanidade, singularidade, coletividade e de nossa naturalidade. Sentar não é mais natural? Envelhecer também não é mais natural? E possuir um mínimo de humanidade, neste mundo tão virtual, é sinônimo de ser exótico, diferente? São elementos que caracterizam nossa existência, assim como nascer, crescer, envelhecer, morrer e porque não, sentar. Envelheceremos e junto com ele, sentar se tornará menos corriqueiro, pelas limitações impostas pelo tempo. Por fim, lanço a pergunta: sentaremos, ou seja, refletiremos antes de levantar ou continuaremos levantando sem sequer saber por qual motivo estávamos sentados? Para concluir, parafraseio o filósofo Friederich Engels: “ou o sentar ou a barbárie”.
Sobre o autor:
Estudante de jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e editor do blog TarjaPreta.
O que é sentar? Colocada assim, a pergunta parece tão óbvia, que alguns ficam até envergonhados em respondê-la. A concepção primeira de sentar é acomodar nossos membros inferiores e nádegas sobre algum objeto, geralmente estático, que pode ser um sofá, uma cadeira ou o banco da praça. Com esta definição, meu texto terminaria aqui, mas quero ir além. Reitero a pergunta: o que é sentar? Sentar, na minha humilde opinião, não é apenas isso. Sentar também é um momento de introspecção. Não sei se alguém já reparou que o verbo sentar está intimimamente ligado com o verbo sentir. Quem é que já não sentiu algo e sentou? E quem já não sentou por estar sentindo algo? Isso ocorre quando sentimos uma tremenda dor-de-cabeça e sentamos; quando sentimos que o organismo não está funcionando bem e sentamos, para citar alguns exemplos. Sentar representa um momento singular e subjetivo em que tudo ao nosso redor pára por alguns instantes e concentramos nossa atenção em torno do objeto de análise. O objeto de análise pode ser a recordação de uma pessoa, um momento, uma música, um texto ou para os mais engajados, algo que no mundo não vá como deveria ir. Porquê tanta guerra ao invés da paz? Porquê tanta desigualdade ao invés da justiça social? Levantar-se não é a causa do sentar-se (ou do sentir algo, portanto, sentar-se), e sim, a consequência daquele sobre este. Levantamos, ou seja, concretizamos um ato, porque previamente sentamos e refletimos em torno desse ato (ou seja, teorizamos tal ato). Será positivo? Negativo? Obsoleto? Deixo ao leitor a resposta...
Sentar e sentir são elementos constantes na vida do ser humano. Quem já reparou que os bebês, antes de nascerem, permanecem naquela posição de quem está sentado? Somente depois de alguns meses é que darão seus primeiros passos. Ambos são elementos essenciais no ser humano. Sentar e sentir são as condições de existência do homem. Sentamos para comer (e sentimos o prazer em estar alimentados), sentamos para ler (e sentimos o prazer em conhecer algo novo), sentamos para fazer nossas necessidades fisiológicas (e sentimos o prazer em estar “livres”) e sentamos principalmente para mudar alguma coisa (e quem não sente prazer em ver que algo mudou?). Entretanto, nos dias atuais, a filosofia está em crise. As pessoas não mais páram para pensar no seu destino, na natureza, na violência, na humanidade que tanto falta a este mundo. Páram sim pra ganhar mais dinheiro, mais poder, mais prestígio, mais um carro, mais uma mulher. E quanto mais tem, menos são. Perdem gradativamente a humanidade. Se tornam mercadorias vendáveis, enlatadas e descartáveis. Logo, se a filosofia está em crise, sentar, ou seja, o momento de reflexão em torno de um ou mais objetos de análise também está em crise. Sentar há duas concepções no mundo atual: conformismo e status quo. E isso remete a segunda parte do título de meu texto: sentir sem tá, sentar sem ti.
No primeiro caso, as pessoas sentam pois estão cansadas de se levantarem e não obterem nenhum resultado concreto. Algumas sequer sentam – utilizando a concepção filosófica aqui explicada. Vivem a vida por simples instinto, emoção, paixão, mas sem reflexão, pois não lhes foi dada a oportunidade para refletir. Logo, sentir sem tá. O “tá” seria o estar entendido como ser crítico, filosófico. Atualmente, as pessoas vivem como zumbis. Não estão. Eram, pois se perderam em algum lugar da história, perderam a humanidade. No segundo caso, aqueles que mandam – os donos do poder – estão muito bem acomodados, sentados em seus assentos, símbolo de poder, status e renome como o prefeito, o governador, primeiro-ministro ou presidente. E continuam mantendo este poder na mão de poucas pessoas, geralmente do mesmo nicho social. Logo, sentar sem ti. O “ti” representa o pai, a mãe, o irmão, o amigo, o professor, ou seja, pessoas que integram nosso mundo coletivo. O mundo coletivo e sobretudo a coletividade estão desaparecendo, pois prevalece a lógica da individualidade fugaz. Todos possuímos anseios e desejos exclusivos, mas isso não deve ser justificativa para obstruírmos interesses coletivos. Até quando essa atual lógica será vista como “normal”, corriqueira? É válido ressaltar que estamos abdicando do bem mais precioso: sentar. Abrir mão deste bem é renegar nossa humanidade, singularidade, coletividade e de nossa naturalidade. Sentar não é mais natural? Envelhecer também não é mais natural? E possuir um mínimo de humanidade, neste mundo tão virtual, é sinônimo de ser exótico, diferente? São elementos que caracterizam nossa existência, assim como nascer, crescer, envelhecer, morrer e porque não, sentar. Envelheceremos e junto com ele, sentar se tornará menos corriqueiro, pelas limitações impostas pelo tempo. Por fim, lanço a pergunta: sentaremos, ou seja, refletiremos antes de levantar ou continuaremos levantando sem sequer saber por qual motivo estávamos sentados? Para concluir, parafraseio o filósofo Friederich Engels: “ou o sentar ou a barbárie”.
Sobre o autor:
Estudante de jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e editor do blog TarjaPreta.
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