Texto originalmente publicado em 06/10/2004, na coluna de Imprensa & Mídia. Para ler o texto no site, clique aqui.
Além disso, diplomatas de renome estão sendo submetidos pelo "professor" ao estudo de três obras: Rio-Branco do autor Álvaro Lins, que fala do patrono da diplomacia brasileira; a segunda obra, Brasil, Argentina e Estados Unidos de Moniz Bandeira, é uma obra cujas críticas são direcionadas à Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA. Por fim, a terceira obra, intitulada Brasil: de 1945 a 1964 do autor Rogério Forastieri da Silva, aborda o tema da política de desenvolvimento baseado na industrialização. Tais obras incomodam a revista, como se pode ler e constatar da reportagem. Afinal de contas, é uma blasfêmia – na visão do panfleto – que o líder interno do Itamaraty tenha tal postura "esquerdista". De fato, essas novas regras que estão circulando dentro do ministério, fazem parte da política externa brasileira, comandada pelo ministro Celso Amorim e pelo assessor do governo Lula para assuntos exteriores, o Senhor Marco Aurélio Garcia. O novo SG condena veemente a postura da ALCA e da política estadunidense, além de querer um Brasil mais "nacional" e "humano". Além disso, com os cursos de língua estrangeira e as obras supracitadas, quer qualificar os funcionários recém-concursados e permitir uma reciclagem para aqueles mais antigos. Há algo de incoerente? Ao contrário, a revista vê tal postura como "desestímulo ao senso crítico". Em uma das linhas, o autor da reportagem, Alexandre Oltramari, escreve: "Tudo que ele (o Secretário-geral) não quer é estimular o espírito crítico entre os alunos. Em outras palavras, aluno bom é o aluno que reza integralmente pelo seu catecismo antiamericano e esquerdista".
Segundo o repórter e a revista, haver senso crítico equivale a submeter-se aos preceitos norte-americanos, além de obviamente condenar a esquerda nacional e mundial. Ao contrário da postura do SG, o comentário do repórter representou sim um desestímulo ao senso crítico. Analisando a reportagem com olhos jornalísticos, é pouco aprofundada, parcial, além de não publicar a suposta "fonte" da reportagem. Carências jornalísticas imperdoáveis e previsíveis, sobretudo se advindas do tal panfleto em questão. Oltramari conclui a reportagem com outra "pérola", que ao meu ver, poderia ser poupada (ao menos em respeito aos leitores): "Na escolinha do professor Samuel, pelo jeito, instalou-se a Alba, Área de livres bobagens das Américas". Aqui, mais uma vez, Oltramari chama de "bobagens" as exigências do Secretário-geral. O mesmo diga-se para as obras por ele escolhidas. O utilizo da expressão "pelo jeito" soa como resignação, após haver lutado para a não instauração dessas regras "esquerdistas". Não estaria na hora da Veja fazer jornalismo sério? Quem sabe o senhor Guimarães não possa aconselhar a revista, perdão, panfleto, algumas obras política e historicamente importantes, para que em reportagens futuras, seus repórteres possam dissecá-las de maneira mais convincente jornalisticamente e que atenda as exigências político-históricas da maioria, ao contrário da minoria que a mesma faz de porta-voz. Talvez seja pedir demais!
Estudante de jornalismo pela Universidade Católica de Brasília e editor do blog Tarjapreta.
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