terça-feira, 24 de outubro de 2006

Entrevista ao blog Notícias de Jayro

por: Eduardo Lima

O editor do blog TarjaPreta foi entrevistado pelo estudante de Jornalismo Jayro, que possui um blog pessoal. As perguntas foram realzidas via e-mail e publicadas em seu blog no último dia 19. A entrevista está sendo republicada aqui.

O candidato do PSDB conta com o apoio da mídia e dos setores produtivo-financeiro. Se depender deles, o candidato do PT não retorna ao planalto.

José Eduardo Lima Pessoa Virgolino, estudante do 3º semestre de jornalismo na Universidade Católica de Brasília, nessa entrevista fala sobre os rumos do Brasil, em especial, sobre a campanha eleitoral que envolve Lula e Alckmin. Eduardo Lima não acredita em grandes mudanças para que seja alterada a situação, na qual o Brasil se encontra, e critica o candidato Lula por não apresentar uma alternativa ao neoliberalismo. Avalia os meios de comunicação como a peça chave na disputa entre Lula e Alckmin.

1) Qual a sua avaliação sobre a disputa eleitoral?
A atual disputa eleitoral se apresenta aos olhos do eleitor como a disputa dos meios de comunicação. A tecnologia das urnas eletrônicas, embora questionável, contribui para uma maior agilidade no processo de apuração dos votos. Todos esses elementos não são suficientes para que haja transparência. Primeiramente, tem que descentralizar o poder de influência concentrado na grande imprensa. A imprensa alternativa, rádios comunitárias e internet (sites, blogs) também devem ser mais atuantes desse processo. Um dos grandes problemas dos governos é a democratização dos meios de comunicação. Em 8 anos de Fernando Henrique Cardoso, não houve nenhum avanço nesse sentido. A grande imprensa em seu governo saiu com enormes dívidas, muitas delas pagas com dinheiro público. Nos primeiros 4 anos de governo Lula, não notou-se avanço nesse sentido. Pelo contrário, o governo federal preferiu dar continuidade a política adotada por FHC, fechando várias rádios comunitárias. Quanto mais informação e concorrência entre os meios, melhor para o público eleitor. E isso infelizmente não está sendo visto nessa disputa eleitoral.

2) O que representa as candituras Alckmin e Lula?
Lula e Alckmin representam as duas maiores forças políticas e ideológicas brasileiras. Ambos defendem o desenvolvimento pelo viés capitalista, mas com roupagens diferentes. No primeiro, embora não haja grandes mudanças na política econômica, ainda é possível fazer mudanças e avanços na área social. O segundo diz que irá ampliar programas sociais do atual governo, por não ter argumentos suficientes para criticá-lo. Seu sonho na verdade é dar continuidade ao processo neoliberal, de privatização do setor público, aumento na taxa de juros, acordo de empréstimo com o Fundo Monetário Internacional, concorrência de mercado sem um mínimo de fiscalização do Estado e uma política externa mais sintonizada com Washington e União Européia. Para conquistar credibilidade com os eleitores, usa as bandeiras da ética e da geração de emprego e renda. Além disso, o candidato do PSDB conta com o apoio da mídia e dos setores produtivo-financeiro. Se depender deles, o candidato do PT não retorna ao planalto.

3) Qual é o desafio do povo brasileiro ante ao neoliberalismo? E o papel do Brasil no cenário internacional?
O neoliberalismo, enquanto doutrina econômica ganhou força nos anos 60 e 70, como principal contraponto ao keynesianismo. Surgiu com os austríacos Friedman e Hayek e na escola de Chicago. É importante ressaltar que tal doutrina nunca foi aplicada na prática, como previam seus idealizadores, mas ganhou adeptos, porta-vozes e respaldo da mídia. Foi implementado na Grã-Bretanha e nos EUA, chegando na América Latina ainda nos anos 80. No Brasil, foi implementado por Fernando Collor, no início dos anos 90 e aprofundado com Fernando Henrique Cardoso, durante seus 8 anos de governo (1994-2002). Como toda causa, colhemos as consequências: aumento da violência, da desigualdade social, diminuição da participação do Estado como fiscalizador e mediador das forças sociais, concentração midiática, entre outros. O neoliberalismo, como nova face do capitalismo, não conseguiu diminuir as desigualdades sociais e econômicas. Pelo contrário, contribuiu para o aumento do abismo social existente em nossa sociedade, que já é grande. Precisa-se partir de alguns pontos importantes:

1) Desafiar o neoliberalismo, com propostas novas e originais. O sucesso dessa teoria foi exatamente sua capacidade de ousar, numa época de consenso. Acredito que, a nova doutrina terá como fundamento a economia de cooperativa. Os governos de esquerda precisam prestar mais atenção nela;

2) O povo brasileiro tem que se unir em torno de uma causa comum, que é lutar contra o neoliberalismo. Para isso, é necessário ver não somente os movimentos sociais e trabalhadores como elementos distintos, e sim, como forças de um mesmo processo;

3) Para que o neoliberalismo deixe de ganhar força, é necessário a união das forças de esquerdas e dos movimentos sociais, juntamente com os trabalhadores, como citei anteriormente.


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